sexta-feira, 24 de julho de 2009

Lar a Céu Aberto

E ai pessoal, para o Blog não ficar parado vou postar uma matéria que fiz o ano passado sobre moradores em situação de rua.
Espero que gostem.



Lar a céu aberto


Nas calçadas, em portas de igrejas, dormindo em praças e tomando banho nos chafarizes das cidades, é notório o grande número de pessoas em situação de rua nas grandes metrópoles. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) em 71 municípios brasileiros (sem a cidade de São Paulo) existem cerca de 33 mil pessoas sem uma moradia fixa e vivendo nas ruas, só na cidade de São Paulo estima-se que 10 mil pessoas estejam nessa mesma situação

Segundo Fábio Rodrigues, encarregado do “Serviço de Atenção a Pessoa em Situação de Rua” da prefeitura de São Bernardo do Campo, 86% da população de rua é do sexo masculino e o maior vilão da história é o álcool. “Pode existir uma desavença familiar ou a perda financeira, mas na maioria das vezes as duas estão ligadas ao consumo de bebidas alcoólicas” contou.

O consumo de entorpecentes e o alcoolismo são freqüentes entre essa população e o uso excessivo dessas drogas pode causar transtornos psicológicos. A psicóloga Janaina Carvalho afirma que o uso abusivo do álcool “pode desenvolver outros problemas de saúde física e até culminar em casos de demência”. Janaina alerta também ao fato dessas pessoas sofrerem muita violência tanto física quanto moral “Alguns desses transtornos indicam uma ruptura psíquica com a realidade, quando essa se mostra muito difícil para o indivíduo suportar com os recursos internos que possui, ou quando o ambiente é muito ameaçador”.

Severino Gabriel de Lima, 49, é um ex-morador de rua e como a maioria das pessoas que chegam a essa situação teve problemas com bebidas alcoólicas “o maior erro é você pensar que é mais forte que a cachaça”, afirma. Severino hoje faz parte do projeto de inclusão social da prefeitura de São Bernardo do Campo, mora no Centro de Convivência do município e não gosta nem de lembrar seus quase 4 anos nas ruas “não existe coisa pior do que morar na rua”, lamenta. Lima ainda compara a situação de rua a fome na África “não desejo isso para ninguém”.





A mesma história

Na mesma cidade de São Bernardo em que Severino se recupera estão mais 331 pessoas vivendo em situação de rua, e entre elas está o pernambucano Gilvan Gomes da Silva,49, que está a 1 ano e 6 meses em uma luta incansável para voltar a sociedade.

Gilvan sofre com o alcoolismo e como tantos outros acabou se desentendendo com a família sendo obrigado a sair de casa. Hoje Silva trabalha como catador de papelão e sofre com a violência e a descriminação “sempre vem uns caras ai colocam a mão no nosso bolso, tentam levar nossa roupa”, lamenta. O morador de rua ainda fala da angustiante luta para conseguir comida “a gente pede, os restaurantes ajudam a gente, é só levar a cumbuca, mas tem vezes que a gente acorda e não tem o que comer” conta. Ele ainda fala da dificuldade de conseguir ajuda das autoridades “eu já tentei moradia, mas é tudo por sorteio e não consegui ajuda em outras cidades” diz com tristeza.





Mas o que falta para incluir uma pessoa nessa situação ser reintegrada na sociedade?

Fábio Rodrigues conta que a maior dificuldade é a falta de estrutura de trabalho e deficiência que alguns municípios têm em tratar seus moradores de rua que ainda são tratados como marginais “Talvez sejam nossas maiores dificuldade, mas que temos possibilidades e superar”, diz esperançoso.

A psicóloga Janaina Carvalho mostra que um trabalho psicológico com uma pessoa em situação de rua só surtirá efeito casa haja uma ação social para reintegrá-lo a sociedade aliada ao auxílio psicológico para deixá-lo de forma digna na sociedade, “Não acredito que a reabilitação desses indivíduos possa acontecer por um único profissional, pois estão feridos em camadas profundas da constituição humana”.

Tanto Gilvan quanto Severino são nordestinos que tentaram a vida em São Paulo e acabaram caindo no submundo das ruas. Os dois sofreram violência e sofrem do mesmo vício, um está recuperado e o outro ainda tenta meios para conseguir o retorno a sociedade e uma vida digna, mas entre eles ainda existem milhares de outros “Gilvans” tentando um dia chegar a ser um Severino.

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